sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Autour de Paris XI - Le Cirque d'Hiver


O Cirque d’Hiver, circo de inverno, é uma bela construção do século XVIII, perto da place de la République. Um desses lugares pelos quais vivia passando e nunca parado para conferir. Hoje resolvi conhecer, exatamente no dia em que Paris acordou sob a neve, exibindo um inverno que chegou antes do previsto.

Na esperança de me aquecer, decido enfrentar andando um percurso de pouco mais de 20 minutos. A tática não deu muito certo, é claro, e chego ao Cirque semi-congelado. Dou uma olhada rápida, afinal foi pra isso que vim, e me enfio no l’Autobus, o primeiro café que encontro. Solto um bonjour para o único cliente presente e interrompo a faxina do funcionário para pedir um chocolat chaud.

- Dos grandes, faz favor!

Assim como minha boca, minhas papilas gustativas estão adormecidas e eu não consigo dizer se o chocolate está muito ou nada doce. Na dúvida, sapeco uma pedra de açúcar. Está quente, então está bom.

Pela janela, observo o bar ao lado, Le Centenaire, onde um sujeito encapotado lê um livro e desobedece à regra básica da estação: ao entrar em um ambiente aquecido, tire toda a vestimenta pesada, para não sentir frio quando sair.

O outro cliente do Autobus puxa um papo qualquer com o atendente sobre nevascas no centro do país, veste seu sobretudo e ameaça ir embora. Abre a porta, recebe uma rajada glacial, volta para o seu lugar e passa longos minutos contemplando o infinito. Toma novamente coragem, levanta-se outra vez e parte.

Um estrangeiro – digo isso pelo seu sotaque – entra e pede um gim com Coca. São 3 da tarde e o servente diz que infelizmente não pode servir álcool a essa hora. O cidadão insiste, com uma fala lenta, argumentando que trabalhou 36 horas seguidas e precisa de algo forte para aquecê-lo.

- Désolé, mas não posso fazer nada, diz, enquanto no meu canto penso em como as estações determinam o ritmo de vida nos países temperados, você querendo ou não.

O inverno, o frio, a neve e o nariz escorrendo; as camisetas em malhas quentes, os casacos de lã, os sobretudos e a pele ainda assim arrepiada; as luvas, as echarpes, os gorros e as extremidades destemperadas; as meias finas cobertas por meias grossas, os calçados especiais e os pés escondidos e encolhidos, tudo isso faz parte de uma realidade que ainda não consegui entender e talvez nunca consiga.

Mas ao menos parei de brigar com ela.

Agora podemos ter uma relação de respeito, o inverno e eu.
Esse texto faz parte da série "Autour de Paris", de crônicas dedicadas a cada um dos bairros da cidade. Para ler os outros, clique aqui.

5 comentários:

Camila Santos disse...

Ai, eu detesto o frio!

Ursula disse...

Eu amo Paris em qualquer estação. Lendo seus posts eu sinto uma saudade!!!!
Beijos
ursulaferraricoach.wordpress.com

mami disse...

Dani, aqui, apesar da chuva, está quente. Eu não gosto muito de chuva, mas gosto muito menos do frio excessivo. Há uma incompatibilidade.........
O bom mesmo é sol e mar!!!!
Beijos saudosos de mami.

Elisabeth disse...

Eu ja fui em um espetaculo no Cirque d'Hiver. Na ocasião foi um presente de natal, se não engano. é espetacular! lindo! Aquela sensação de ir ao circo, rir dos palhaços, ficar boquiaberto com os acrobatas, mágicos e leões (sim sim sim, têm leões!) é sensacional. Recomendo que você va um dia, quando a pequena Louise ja tiver idade pra ir. Você vai ver, o Cirque d'Hiver não sera mais so uma construção bonita. ;)

Anônimo disse...

Eu conheço o cirque d'hiver tb. Fui ver um espetáculo lindo lá, em 2008.

Sandra