sexta-feira, 3 de junho de 2011

O Charles garante

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Continuo cobrindo o torneio de Roland Garros,
escrevendo crônicas diárias para o Tênis Brasil, o maior site brasileiro de tênis. Visitem o site para ler os outros textos.
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Senhoras e senhores, esse ano a Federação Francesa de Tênis fez o maior auê para dizer que finalmente iria acabar com os cambistas de Roland Garros, a partir da adoção de uma medida simples: ingressos nominais e apresentação do documento na porta. O cidadão só entraria se a graça impressa no bilhete coincidisse com a gravada na identidade.

O anúncio oficial dessa maravilhosa novidade foi em uma festa cheia de bacanas engravatados. “Liquidamos com os parasitas”, afirmaram, num discurso capaz de emocionar até atendente de telemarketing.

Agora, vai, pergunta se funcionou, pergunta.

É claro que não, né?

Logo no primeiro dia do torneio, o caminho entre a saída do metrô e a entrada do complexo já estava tomado de cambistas segurando seus cartazes faits maison, onde se lia “cherche place”. “Procuro ingresso”, em português. Acontece que, pela lei, é ilegal fazer dinheiro revendendo, então eles anunciam que estão comprando. “Estamos prestando um serviço. Somos postos avançados da bilheteria”, me disse um deles. Serviço, eu não sei. Avançado, certamente, pois eles avançam sem dó no bolso dos incautos.

Dia desses fui verificar o funcionamento do esquema.

- Pra Suzanne Lenglen, cento e vinte dinheiros.
- Cento e vinte? E pra central?
- Quatrocentos.

Caraca, maluco. Quatrocentos mangotes pra ver o Federer despachar mais um pra casa! Se bobear, é mais caro do que a passagem de volta do sujeito.

- Mas e essa história de ingresso nominal?
- Tu rigoles ou quoi? Você acha mesmo que eles conferem?
- E não conferem?
- O Charles garante que não.
- E se der problema?
- Não vai dar problema, o Charles garante.
- Sei, sei. E aposto que o Charles é você, certo?
- Pas du tout. O Charles é um cara acima de qualquer suspeita.

Disse isso e me apontou o Charles, que estava ao seu lado, braços cruzados. Um tipo tão grande que era compreensível que seu nome fosse no plural.

- Você não garante, Charles?, perguntou o vendedor.
- Garanto!, grunhiu o Charles.

Olhei e agradeci, garantindo que não tinha interesse na proposta.

2 comentários:

Bartolomeu disse...

Gostei de novo. Mas será que você não estava diante dos portões do Maracanã? Parece. Já ouvi falar de um Charles por ali. Mas por que não falou do roxette dessa vez? Afinal o assunto é tênis - tudo a ver - você se mpre pode estar negativando alguém pra manter a forma.

Beatriz disse...

Uau, então é bem parecido com o Brasil em dia de jogo de futebol...
Quando posso, acompanho alguns dos jogos aqui pela TV. E hoje é Federer na final contra Nadal, ulalá!!! Mas a minha televisão resolveu bloquear os canais de esporte, logo hoje!!!
Beijocas
Bia
www.biaviagemambiental.blogspot.com