sexta-feira, 2 de setembro de 2011

À la brésilienne

- Je suis désolé, monsieur, mas isso não pode ser feito.
- Como assim, não dá?
- C’est pas possible.
- Não dá pra dar um jeitinho?
- Como assim, um jeitinho?
- Um jeitinho é uma maneira brasileira de resolver o que não pode ser resolvido. Mas não significa, no entanto, que a coisa será definitivamente resoluta.
- Você está me dizendo que você quer que eu invente uma solução para algo aparentemente insolúvel e no fim das contas ela não vai solucionar o problema?
- Vai resolver o meu problema, que é a questão nesse momento.
- Mais c’est incroyable!
- Eu também acho. Inacreditavelmente simples, né? Estamos acertados?
- C’est incroyable a sua cara de pau. Você quer que eu mude as regras para se adaptarem às suas necessidades!
- Eu não diria “mudar”. Vamos trocar por “humanizar”. É mais bonito e cai super bem na França, onde vocês adoram uma filosofiazinha.
- Então, pela sua lógica, se eu tirasse a sua multa eu seria mais humano?
- Duplamente. Fazendo esse favor, você se mostraria uma pessoa melhor e de quebra ainda ganharia um amigo.
- Quem?
- Euzinho.
- Mas eu não quero sua amizade.
- Como assim?
- Eu nem sei quem é você.
- Antônio, a seu serviço.
- Não quero ser seu amigo, Antoniô.
- Puxa, tá bom...
- Ei, também não precisa chorar.
- Vocês, franceses, são muito frios. Bem que minha mãe me disse pra não vir pra cá, que o Brasil era muito melhor, que a torre de Brasília era muito mais bonita que a Eiffel, que a poluição do Tietê era muito mais escura que a do Sena, que...
- Calma, Antoniô. Vamos fazer o seguinte: pra você parar de me perturbar, eu finjo que não vi o seu carro e você vai embora daqui, ok?
- Jura que você vai fazer isso por mim?
- Juro.
- Você não imagina como fico feliz! Pra agradecer, te convido a ir lá em casa hoje à noite. Vai ter feijoada com caipirinha.
- Hmmm, adoro caipirinha, mas não sei se devo.
- Deve, deve. Afinal, somos amigos ou não?
- Somos?
- Claro que somos!
- Bom, d’accord. Vou aceitar o convite.
- Feito. Passa lá às 20 horas. Não precisa levar nada. Beijomeliga!

Vrummm.

- Antoniô, você não me deu o endereço. Antoniô!!!

6 comentários:

Anônimo disse...

Rapaz, essa história é demais. Mas acho que esse Antônio se chama Bruno! Abs!

Cristovao disse...

Essa foi muito boa, Sambarichello! Hã!?!?!? Das melhores que você já escreveu. Fui eu que te dei a ideia, né?

Atitude do pensar disse...

O jeitinho brasileiro está em pauta nesta semana, estigma ou não, presente desde o colonialismo ou não, infelizmente representa nossa identidade nacional e internacional.
Mas o humor do texto trouxe uma atmosfera mais leve.
Ah, te acompanha lá no outraspalavras e há um tempo aqui, estudo francês para minha pesquisa de mestrado que será na área de antropologia, além de ser apaixonado por inúmeras coisas de origem francófonas.
Inté,
Keila

Mami disse...

Ri muito e achei muito boa mesmo.
Saudades e bjs,
Mami

Anônimo disse...

Adorei a dica da Carolina Valadares, que me indicou seu blog. Vc é muito criativo! O texto é ótimo demler! Parabéns!!! Ana Luiza Gomes

Anônimo disse...

C’est incroyable! C'est si bon!Super! Bisou ;O)