Um plano que tinha desde que cheguei a Paris, e nunca havia realizado, era pegar um ônibus qualquer e ir até o final da linha. Sem o objetivo de chegar a lugar nenhum, apenas para observar as pessoas subindo e descendo, andando nas ruas, conduzindo seus carros. Hoje decidi fazê-lo, na esperança de no caminho encontrar um bom assunto para uma crônica.
Saio de casa, subo no ônibus 29 e sento ao lado de uma mulher que lê o Le Monde. Saco meu moleskine para anotar o que me chama a atenção. Escrevo “Ópera Bastille, vovô” quando passamos pela ópera da Bastille, que meu avô condenou para todo sempre, classificando-a como uma “ópera de 2a categoria, onde se apresentam artistas de 2o nível, para um público de 2o escalão”. Sendo ele um conhecedor no assunto, nunca ousei discordar.
O 29 devia ir até as (infernais) Galeries Lafayette, mas pára na altura da Ópera Garnier. A ópera original de Paris, construída no século XIX, que serviu de inspiração para o Theatro Municipal do Rio e, o mais importante de tudo, sempre recebeu a aprovação do meu avô: “Essa vale a pena visitar, ao contrário daquela coisa horrível da Bastilha”.
Como não achei ainda um tema interessante para um texto, decido pegar o 80, que corta a cidade de norte a sul. Uma linha que passa por lugares a mim estranhos e me traz a sensação – que adoro - de estar perdido em uma cidade que já conheço bem.
Só me situo quando já estamos perto do Champs-Élysées, que exibe garboso sua iluminação de Natal, como toda Paris nesse momento. Anoto "Champs-Élysées, luzes" e admiro o cartão postal por alguns instantes, mas minha atenção é logo desviada para o senhor da minha frente, que confere no jornal o resultado da loto. “Não ganhei, droga. Quem sabe da próxima vez?”.
O 80 atravessa o Sena pela ponte d’Alma, de onde se tem uma visão fantástica da torre Eiffel, e continua o trajeto habitual, que o leva várias vezes por dia, todos os dias do ano, à porta de Versailles. Desço na École Militaire, ainda sem a minha história, e pego o 87. Sento na janela, perto de um casal oriental que conversa animadamente, de uma mãe que fala em inglês à filha e de uma senhora que abre e fecha sem parar um livro de Michel Houellebecq.
O 87 passa por trás dos Invalides e sua bela cúpula dourada. Depois, faz uma curva e vai em direção à monstruosa torre Montparnasse. Escrevo "Invalides x Montparnasse". Em seguida, vira novamente, sai costurando pequenas ruas e tangencia o Bon Marché, onde posso observar as decorações natalinas, os clientes entrando sem nada e saindo cheios de sacolas, as pessoas pedindo esmolas e doações e principalmente os transeuntes, que passam sem se importar nem um pouco com todo o burburinho.
Desço na Gare de Lyon, com frio e frustrado por não ter encontrado fatos extraordinários pelo caminho, apesar de estar em uma das mais deslumbrantes cidades do mundo. Tudo o que pude ver foi a vida normal correr para pessoas tão normais quanto eu. Paro e penso sobre isso. E nesse instante, e pela primeira vez desde que cheguei aqui, há quase 5 anos, sinto-me um parisiense, apesar de sempre ter inconscientemente me recusado a ser um.
Um pouco atordoado, entro em um bar e peço um café expresso. O garçom me serve e pergunta se quero açúcar. Olho pra ele e digo que “non, merci”, enquanto retiro o sobretudo e o cachecol.
Saio de casa, subo no ônibus 29 e sento ao lado de uma mulher que lê o Le Monde. Saco meu moleskine para anotar o que me chama a atenção. Escrevo “Ópera Bastille, vovô” quando passamos pela ópera da Bastille, que meu avô condenou para todo sempre, classificando-a como uma “ópera de 2a categoria, onde se apresentam artistas de 2o nível, para um público de 2o escalão”. Sendo ele um conhecedor no assunto, nunca ousei discordar.
O 29 devia ir até as (infernais) Galeries Lafayette, mas pára na altura da Ópera Garnier. A ópera original de Paris, construída no século XIX, que serviu de inspiração para o Theatro Municipal do Rio e, o mais importante de tudo, sempre recebeu a aprovação do meu avô: “Essa vale a pena visitar, ao contrário daquela coisa horrível da Bastilha”.
Como não achei ainda um tema interessante para um texto, decido pegar o 80, que corta a cidade de norte a sul. Uma linha que passa por lugares a mim estranhos e me traz a sensação – que adoro - de estar perdido em uma cidade que já conheço bem.
Só me situo quando já estamos perto do Champs-Élysées, que exibe garboso sua iluminação de Natal, como toda Paris nesse momento. Anoto "Champs-Élysées, luzes" e admiro o cartão postal por alguns instantes, mas minha atenção é logo desviada para o senhor da minha frente, que confere no jornal o resultado da loto. “Não ganhei, droga. Quem sabe da próxima vez?”.
O 80 atravessa o Sena pela ponte d’Alma, de onde se tem uma visão fantástica da torre Eiffel, e continua o trajeto habitual, que o leva várias vezes por dia, todos os dias do ano, à porta de Versailles. Desço na École Militaire, ainda sem a minha história, e pego o 87. Sento na janela, perto de um casal oriental que conversa animadamente, de uma mãe que fala em inglês à filha e de uma senhora que abre e fecha sem parar um livro de Michel Houellebecq.
O 87 passa por trás dos Invalides e sua bela cúpula dourada. Depois, faz uma curva e vai em direção à monstruosa torre Montparnasse. Escrevo "Invalides x Montparnasse". Em seguida, vira novamente, sai costurando pequenas ruas e tangencia o Bon Marché, onde posso observar as decorações natalinas, os clientes entrando sem nada e saindo cheios de sacolas, as pessoas pedindo esmolas e doações e principalmente os transeuntes, que passam sem se importar nem um pouco com todo o burburinho.
Desço na Gare de Lyon, com frio e frustrado por não ter encontrado fatos extraordinários pelo caminho, apesar de estar em uma das mais deslumbrantes cidades do mundo. Tudo o que pude ver foi a vida normal correr para pessoas tão normais quanto eu. Paro e penso sobre isso. E nesse instante, e pela primeira vez desde que cheguei aqui, há quase 5 anos, sinto-me um parisiense, apesar de sempre ter inconscientemente me recusado a ser um.
Um pouco atordoado, entro em um bar e peço um café expresso. O garçom me serve e pergunta se quero açúcar. Olho pra ele e digo que “non, merci”, enquanto retiro o sobretudo e o cachecol.
5 comentários:
Que texto interessante!
Bela maneira de demonstrar a sua invisibilidade na cidade grande.
Parabéns!
Oi Dani, hoje acordei com a sua voz: mãããe, cheguei! Fiquei pensando... será que o Daniel vai sentir muitas saudades de Paris? Afinal lá se vão mais de 4 anos.... E quando leio o chéri vejo que vc já se sente um parisiense. Entrei no clima, coloquei música francesa para ouvir e abri a janela para o sol entrar.
Beijos saudosos,
Mami
Adorei a descrição. Senti que andava por Paris junto com você!:)
Um beijo
Fê
www.escritoshumanos.blogspot.com
www.algumasobservacoes.blogspot.com
É engraçado ler seu delicioso texto pois muitos dos meus textos foram escritos e /ou inspirados nos ônibus da cidade. Não da cidade luz, mas da cidade maravilhosa. beijo
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